Resenha: A garota do lago de Charlie Donlea


"Nenhum suspeito. Apenas uma garota que estava viva um dia e morta no dia seguinte. Algo que não faz sentido." 

• não contém spoilers 

“A revelação de seu segredo de longa data aliviou a pressão, permitindo-lhe relaxar um pouco. Enfim, Becca acreditou que tudo daria certo.” Desculpa, Becca… não deu tudo certo! 

Finalmente trouxe aqui pra vocês a resenha sobre “A garota do lago”, um dos livros que muitos bookstans tem em suas estantes, ou tem curiosidade, mas nem todos leram! Será que vale a pena mesmo a leitura?! Não se preocupem, não contém spoilers. Deixei os avisos de gatilhos no final da resenha.

Olha, pra começar é sempre bom dizer que livro é um gosto pessoal. Eu tenho meus gostos refinados em assuntos que são do meu interesse, minhas vivências de entretenimento, referências que adquiri ao longo da minha vida ou que julgo serem importantes para me prenderem em uma narrativa. É o que, naturalmente, vai me fazer ou não gostar de um livro. PORÉM, quem me acompanha pode encontrar similaridade no meu gosto de leitura, e darei minha opinião sincera. Mas sabe, na dúvida é sempre bom tirar nossas próprias conclusões, costumo fazer isso quando um livro é “mal falado” porque me instiga a ter minha própria opinião sobre ele  (assim como em assuntos da vida), dito isso, após esse exagero inicial que é característico da pessoa que vos fala — exagerada até na caneca de café — vamos para o que interessa! 

A trama se passa na pequena cidade Summit Lake, onde a estudante de direito Becca Eckersley é brutalmente assassinada na casa da família próxima de um lago. A partir disso, fica o mistério do motivo do assassinato e também quem é o culpado. Somos apresentados a repórter Kelsey Castle, que vai até a cidade para reunir pistas, investigar o caso, interessada em fazer uma grande reportagem quando tiver a revelação em mãos!

Se eu pudesse resumir o que esse livro representou pra mim e minha principal ressalva seria: excessivamente descritivo. Esse foi o primeiro livro publicado de Charlie Donlea, então é um tanto óbvio que ele ainda estava entendendo o seu estilo de escrita, ou aprendendo o que funciona ou não em um suspense com quase 300 páginas. Eu sou leitora voraz de suspense, é um dos gêneros que mais me atiçam a curiosidade e portanto, um dos que mais coloco expectativa no autor. Primeiro porque coisas óbvias ou clichês dificilmente vão nos prender na narrativa, criar aquele friozinho na barriga. Segundo, porque eu gosto de ir acompanhando o desenrolar da história e ir tentando desvendar. Em “A garota do lago” durante muitos momentos senti uma narrativa rasa e um tanto tediosa… eu realmente não queria saber dos detalhes das pedras da cachoeira e como a luz bate na água e brilha e… como aquilo reflete e… ufa! Pra vocês entenderem exatamente o que quero dizer, deixo o seguinte trecho do livro:

“Nuvens brancas como a neve corriam pelo céu, estendendo-se sobre o lago e na direção do horizonte, como um teto do mundo. Na distância, uma abertura se formou, como se um solvente despejado do céu tivesse aberto um buraco nas nuvens, e, através dele, brilhassem raios vibrantes de luz solar, que pousavam sobre a cachoeira e ricocheteavam no granito. Então, a água adquiriu um tom alaranjado. Kelsey não tirou os olhos da cena misteriosa. A cachoeira do sol da manhã. (...) Naquele momento, ela estava na base da cachoeira, com todas as questões a respeito de Becca Eckersley organizadas na mente. Dirigiu seu olhar para a origem da cachoeira, onde duas rochas arredondadas se situavam no topo do penhasco e ladeavam a água que passava entre elas. Provavelmente a força da água desgastou o penhasco ao longo do tempo, Kelsey imaginou, até que, no fim, a torrente cresceu e um pequeno filete escoou entre as pedras. Anos depois, a pressão implacável forçou uma abertura nas rochas, até que, por fim, a porção mais fraca se dissolveu e permitiu que a torrente vertesse da beira do penhasco. Aos poucos, o fluxo incessante foi polindo as rochas, criando um circuito através do qual a água passava livremente antes de cair da montanha. A evolução daquele cenário era incrível.”

Fiquei refletindo e penso que por a cidade ser um ponto central da narrativa, ele quis trazer essas descrições dos cenários para criar proximidade, onde a paisagem ficasse evidente em nossas mentes. Mas como leitora de suspense, penso que em uma narrativa desse gênero, o “não dito” desperta muito nossa curiosidade. Inclusive, “Summit Lake” é o nome original da obra, que é o nome da cidade onde acontece o assassinato.  Parece uma referência a "Twin Peaks” — uma série dos anos 90, onde um agente do FBI está investigando a morte suspeita de Laura Palmer — mas faltou eu conseguir me conectar com os personagens. 

Não me entenda mal, é horrível o que a Becca passou, até mesmo a Kelsey mas não consegui me conectar com nenhum personagem. Não senti que a Kelsey teve uma grande conexão com a Becca, achei tudo colocado ali mas pouco aprofundado, ainda mais em questões sérias que envolvem ambas, principalmente em contextos que poderiam despertar uma empatia feminina. 

A Kelsey tem uma situação de abuso em um “passado recente”, esse é um dos motivos que o chefe dela a incentiva viajar para Summit Lake, mas e o modo como isso foi trabalhado?! Basicamente ela vence isso com livros de autoajuda, achei meio sem noção, pareceu aqueles mecanismos usados nas narrativas apenas para criar um trauma, chocar, mas que não vai firme no assunto. Não quer realmente colocar um holofote em cima disso. Tudo bem, o foco era a Becca, mas me irrita um pouquinho isso que alguns escritores fazem. Vamos humanizar os personagens pra valer, oras, se não melhor nem começar!

Gostei da premissa, acho interessante a ideia central do livro, a cidade pequena porém… eu senti como se o livro tivesse mais de 400 páginas… parecia que nunca ia terminar. Cada capítulo alterna trazendo pontos de vista em 3ª pessoa, da Becca e da Kelsey, passado e presente, onde tudo vai se alinhando e caminhando para o desfecho. Vamos descobrindo detalhes do passado da Becca, comportamento de outros personagens que conviviam com ela, o que cada um representava no seu círculo social.

Agora, eu sei que reclamei bastante hahaha mas o livro não é de todo ruim. Falo sério! Tirando alguns gatilhos no início, é um livro “leve”. Um suspense pra quem quer iniciar nesse gênero literário e não se liga tanto nisso da construção da narrativa ser instigante. Sabe o que pensei também quando estava lendo? “Esse é um ótimo livro para quem está iniciando na escrita” dá pra aprender um pouco sobre como o detalhamento de certos pontos deixa a leitura cansativa. 

MAS E O PLOFT FINAL, LADY CAFEZINHO?! Tem uma altura do livro que começamos a pescar ideias disso, e eu gostei da solução! Gostaria de mais momentos de tensão ao longo do livro como presenciamos no final. Minha maior dica é: fuja dos spoilers! Um tempo atrás me perguntaram sobre os plots e esse livro não tem muitos, então se você souber dos detalhes pode ficar desinteressante. (Eu nunca leria se soubesse algum dos plots) 

Minha nota final foi 3,5 ⭐️. Por que? Porque eu gosto de suspense com um ritmo mais acelerado. Ainda pretendo ler outro mais recente do Charlie Donlea para comparar as narrativas. E você, já leu ou tem “A garota do lago” aí na sua estante, bookstan?

Para quem está começando a ler suspense, indico “Um de nós está mentindo.” Tem uma narrativa leve, fluída e desperta bastante curiosidade! Você pode encontrar ele aqui: amazon, submarino.



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